CeMEAI

Projeto para diminuir índices de mortalidades materna e neonatal tem participação de pesquisadora do CeMEAI

O “SELMA” foi implantado em países africanos e usa a estatística para monitorar ações durante o trabalho de parto

O nome é de mulher e o projeto é para elas. Dez mil gestantes, selecionadas em unidades de saúde da Nigéria e de Uganda, participam de uma iniciativa que pretende melhorar a qualidade do serviço oferecido no trabalho de parto, tanto no que se refere aos procedimentos utilizados pelos profissionais de saúde quanto aos cuidados disponibilizados em relação às parturientes. O SELMA, sigla inglesa de Simplified, Effective, Labour Monitoring to Action (Ferramenta simples e efetiva para o monitoramento de ações no parto) é parte de um programa maior, o BOLD – Better Becomes in Labour Difficulty (Melhores Desfechos para dificuldades no trabalho de parto) e é um dos projetos em andamento ligados à Organização Mundial de Saúde. O programa tem como patrocinadora a Bill and Melinda Gates Foundation, uma das maiores fundações sem fins lucrativos que apoiam iniciativas para melhoria da qualidade de vida da população.

No Brasil, o SELMA é desenvolvido desde 2013 na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e tem participação de uma pesquisadora do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CEPID-CeMEAI): a professora Gleici da Silva Castro Perdoná. Ela integra uma equipe multidisciplinar do Departamento de Medicina Social, que conta também com bioinformatas, psicólogos, ginecologistas, obstetras e outros profissionais. A equipe de Gleici é a responsável pelo desenvolvimento de modelos estatísticos para a predição de diferentes desfechos que podem ocorrer durante o parto. “Nosso primeiro objetivo é fazer a identificação, sabermos com antecedência por meio de modelos estatísticos o que contribui para um desfecho ruim no parto, que poderia ser o bebê com alguma deficiência grave de longa duração ou mesmo a morte do recém-nascido. Diminuir essa mortalidade é um dos objetivos”, explica a pesquisadora.

Um dos ginecologistas-obstetras que fazem parte do SELMA é João Paulo Souza, também da USP em Ribeirão Preto. Souza acredita que, apesar de a pesquisa demandar um suporte tecnológico considerável e ser realizada em países em desenvolvimento, o programa não terá problemas. “Uma vez desenvolvida, a ferramenta deverá requerer possivelmente um tablet. Como toda inovação, antes da liberação para uso entraremos em uma fase de testes, o que demandará alguns anos. Nesse tempo, a expectativa é de que o acesso a tablets por profissionais de saúde nesses países deva aumentar consideravelmente”, comenta.

As intervenções durante o parto são um dos desfechos considerados e podem ser feitas de várias formas, mas os pesquisadores do SELMA escolheram algumas delas como o objeto e estudo: a indução, a aumentação (uso de medicamentos para aumentar as contrações ou acelerar o parto), a realização de uma cesárea ou uma combinação entre as técnicas.

Sobre os primeiros resultados, Gleici ressalta que provavelmente vão sair no segundo semestre deste ano. “Estamos em fase de coleta de dados, com a perspectiva de terminar no mês de julho. Após a coleta de dados, vem a fase de limpeza da base e a construção dos modelos, seguida pela disponibilização para os profissionais da saúde”, relata.

Dados da Organização Mundial da Saúde divulgados em 2014 apontam que, a cada dia, cerca de 800 mulheres morrem de causas relacionadas à gravidez e ao trabalho de parto. O levantamento aponta, ainda, que 99% dos óbitos maternos ocorrem em países em desenvolvimento e que o índice é maior entre as mulheres que vivem em comunidades rurais e em lugares mais pobres. Além disso, a OMS ainda descobriu que adolescentes correm mais riscos de complicações na gravidez e no parto do que mulheres mais velhas.

Gleici ressalta que o plano é levar o SELMA outros países. “Todos esses modelos que serão desenvolvidos serão implementados como ferramentas tecnológicas. A ideia é que a gente tenha um aplicativo que possa apoiar esses profissionais da saúde de forma sistemática, que não seja só no papel, como é feito atualmente”. A pesquisadora do CeMEAI também faz questão de reforçar a importância da parceria entre profissionais de distintas áreas. “É necessário existir uma grande interação entre a equipe de estatísticos e a dos profissionais da saúde, porque, para o desenvolvimento dessa ferramenta, o entendimento do sistema é complexo. Isso é, para mim, muito motivador – poder trabalhar na minha área de especialidade, contribuindo com um projeto que, utilizando conceitos matemáticos e estatísticos, permite a tomada de decisões sistematizadas, de forma a minimizar um desfecho ruim que é a mortalidade do neonatal e materna”, conclui.

SELMA no Workshop de Modelagem de Risco

No dia 13/03/15 foi feita uma apresentação da pesquisadora Gleici da Silva Castro Perdoná sobre o projeto SELMA no 2° Workshop de Modelagem de Risco realizado na USP em São Carlos:

Sobre o CeMEAI

O Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), com sede no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP. O CeMEAI é especialmente adaptado e estruturado para promover o uso de ciências matemáticas (em particular matemática aplicada, estatística e ciência da computação) como um recurso industrial.

As atividades do Centro são realizadas dentro de um ambiente interdisciplinar, enfatizando-se a transferência de tecnologia e a educação e difusão do conhecimento para as aplicações industriais e governamentais. As atividades são desenvolvidas nas áreas de Otimização Aplicada e Pesquisa Operacional, Mecânica de Fluidos Computacional, Modelagem de Risco, Inteligência Computacional e Engenharia de Software. 

Além do ICMC, o CEPID-CeMEAI conta com outras cinco instituições associadas: o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (CCET-UFSCar); o Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (IMECC-UNICAMP); o Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (IBILCE-UNESP); a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT-UNESP); o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE); e o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP).

Texto: Carla Monte Rey – Assessoria CEPID-CeMEAI

Leonardo Zacarin – Assessoria CEPID-CeMEAI

Fotos cedidas: Livia Ciabati – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP)

Mais informações

Assessoria de Comunicação do CeMEAI: (16) 3373-6609

E-mail: contatocemeai@icmc.usp.br

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