Polícias e agências de inteligência em todo o mundo trabalham para encontrar formas eficazes de combater o crime organizado e reduzir a criminalidade. No Brasil, estimativas apontam para redes clandestinas formadas por cerca de 10 mil indivíduos ou mais atuando em crimes como assalto a bancos, tráfico, pedofilia, fraudes financeiras, lavagem de dinheiro, corrupção, entre outros.
Até bem pouco tempo, a estrutura, robustez, topologia e outras características dessas redes criminais não contavam com a matemática como aliada para entendê-las e propor soluções de controle da criminalidade. Uma realidade que vem mudando.
Bruno Requião da Cunha é físico e agente da Polícia Federal no Rio Grande do Sul e, a convite do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), ministrou palestra na segunda-feira, 3, para um público de alunos, professores e pesquisadores em um dos auditórios do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
Segundo ele, a apresentação teve como proposta mostrar como o estudo de redes complexas pode ajudar a enfrentar a criminalidade de uma maneira mais eficiente, apresentando soluções novas para um problema antigo no Brasil.
“Queremos entender a maneira como essas redes se estruturam, como geram fragilidades na arquitetura dos relacionamentos e, com isso, explorarmos a aplicação de estratégias para combater o crime organizado, descobrir essas fragilidades não é algo trivial, sozinho um investigador não conseguiria olhar para uma rede formada por milhares de indivíduos. Precisamos dessas ferramentas matemáticas e computacionais para enxergar o ponto nevrálgico da rede com os indivíduos chaves nas investigações”, comentou.
Ainda segundo Bruno, efetivamente, este trabalho que conta com a cooperação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialistas, teve início no país em 2014 e já é possível apontar os resultados positivos.
“Temos muitos artigos sendo compartilhados e aplicamos as técnicas em investigações da Polícia Federal, como recentemente ocorreu na Operação Darknet que desmantelou uma rede de pedofilia, utilizando esses conceitos e foi um sucesso. Foi a maior investigação de pedofilia do Brasil, salvando muitas crianças”, lembra.
“Eu acho que a matemática está em tudo, precisamos entender que em qualquer fenômeno, desde o menor ao maior, a matemática está envolvida. Aos poucos, estamos mudando a tradição de achar que os fenômenos naturais não podem ser explicados matematicamente, sim, eles podem e à medida que começamos a fazer isso, os resultados começam a aparecer rapidamente. Está crescendo o número de matemáticos, físicos e cientistas da computação, de engenheiros interessados em aplicar matemática nos fenômenos sociais, no crime e o potencial disso é enorme. Precisamos acreditar que de fato a matemática tem uma solução nova para um problema antigo que é a criminalidade e ela pode apresentar resultados diferentes”, completou Bruno.
O pós-doutorando Luiz Gustavo Alves, do CeMEAI, participa de um projeto internacional de pesquisa que visa auxiliar nos crimes de corrupção e, junto de um dos pesquisadores do Centro, André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, foi o incentivador da vinda de Bruno Requião à USP de São Carlos.
Sobre o CeMEAI
O Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), com sede no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
O CeMEAI é estruturado para promover o uso de ciências matemáticas como um recurso industrial em quatro áreas básicas: Otimização Aplicada e Pesquisa Operacional, Mecânica de Fluidos Computacional, Modelagem de Risco, Inteligência Computacional e Engenharia de Software.
Além do ICMC-USP, CCET-UFSCar, IMECC-UNICAMP, IBILCE-UNESP, FCT-UNESP, IAE e IME-USP compõem o CeMEAI como instituições associadas.
Raquel Vieira – Comunicação CeMEAI
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